Na última quinta-feira (5/12), Ritchie voltou a Porto Alegre para fazer o penúltimo show da turnê “Menina Veneno 40 anos – A Vida Tem Dessas Coisas”, no Teatro do Bourbon Country. A apresentação celebra o aniversário do disco Voo de Coração (1983), o de maior sucesso do artista. Mas o espetáculo – em seu sentido literal – surpreende sonora e visualmente, e não se prende à obra homenageada.
Com a típica pontualidade britânica, o show do artista inglês radicado no Brasil começou impactante, com projeções 3D que brincavam com ilusionismo, algo presente ao longo de toda a apresentação. As imagens e ilustrações que rodaram nas telas – que também eram interativas com os movimentos corporais de Ritchie – eram igualmente hipnotizantes. A concepção visual do show envolve grandes nomes da área, como Alexandre Arrabal e Kiko Dias (diretores de arte), Jorge Espirito Santo (direção geral) e Césio Lima (iluminação).
Outro elemento de destaque é a banda impecável e afiada. Aos elementos típicos de uma banda de rock – guitarra, baixo, bateria e teclado – somaram-se um saxofone, tocado pelo excelente Hugo Hori, e uma flauta transversal, executada pelo próprio Ritchie. O grupo é formado também por Eron Guarnieri (teclados), Igor Pimenta (baixo), Renato Galozzi (guitarra) e Luiz Capano (bateria).
Uma coisa que admirava no Ritchie era a capacidade de fazer ótimas letras em português, que não é sua língua nativa e é um idioma difícil de se aprender. Mas já na terceira música, houve uma quebra de expectativa: ele revelou que a maioria das letras de seus sucessos são do seu grande parceiro de composição Bernardo Vilhena, enquanto ele faz as melodias. Minutos depois, constatei que, mesmo assim, ele continua sendo um grande artista por ter construído ótimas melodias e arranjos, além da voz afinadíssima e de um carisma que só o humor inglês sarcástico pode nos proporcionar.
O repertório também foi escolhido a dedo. Além de executar obra-prima do artista quase na íntegra, com canções como “No Olhar”, “Casanova”, “A Vida Tem Dessas Coisas”, “Voo de Coração”, “Pelo Interfone”, “Preço do Prazer” e, claro, “Menina Veneno”, também estavam no setlist “A Mulher invisível” e “Só Prá o Vento”, do disco E a Vida Continua (1984), o hit “Transas” e “Elefante Branco”, do antigo grupo Tigres de Bengala. Tão especial quanto os grandes sucessos, foram músicas mais recentes, como “Loucura e Mágica”, parceria com Antonio Cicero, e “Saudade Sem Paisagem (Ela Jamais Virá)”, com letra do poeta Fausto NIlo.
O show “Menina Veneno, 40 anos – A Vida Tem Dessas Coisas” atesta que Ritchie é muito mais que a faixa que dá nome à turnê. Ele mostra que é um artista completo que em sua trajetória viveu ascensões e quedas bruscas, com explosões de vendas seguidas de boicotes e até mesmo xenofobia. Mas a vida tem dessas coisas, o tempo passa e as coisas se ajeitam. E assim como a música “Menina Veneno”, essa turnê também entrou para a história.