Viva os compositores brasileiros

Antonio Cicero. Foto: Reprodução

Por algum motivo que não sei bem, o trabalho invisível me fascina. E no caso da música, me emociona milhões de pessoas ouvindo e cantando canções que foram criadas por um profissional que nem sempre dá as caras: o compositor. Dia 7 de outubro comemora-se o dia do compositor brasileiro. A data já passou, mas sempre é hora de lembrar e celebrar esse ofício tão caro para o nascimento de uma música e tão desvalorizado pela maioria de seus ouvintes, que não têm mais o hábito (nem a oportunidade) de olhar fichas técnicas de singles e discos.

Para homenagear essas eminências pardas da música brasileira, vou falar sobre alguns compositores de grandes clássicos e de músicas contemporâneas que mudaram minha vida  – ou que pelo menos chamam a minha atenção. Confira:

 

Michael Sullivan & Paulo Massadas

Certamente a dupla de compositores mais conhecida e mais afiada do país. Autores de vários dos maiores hits dos anos 1980 e 1990, indo do brega ao soul, passando ainda pela MPB e música infantil, Sullivan & Massadas basicamente se tornaram imperadores da música popular brasileira desse período e tiveram sua história revisitada recentemente na série “Sullivan & Massadas: Retratos e Canções”, produzida pelo Globoplay. Dentre as centenas de composições e sucessos, estão “Um Dia de Domingo”, “Me Dê Motivo”, “Whisky a Go Go” e “Lua de Cristal”, está a canção que dá nome ao documentário, interpretada originalmente (e lindamente) por Sandra de Sá, e que beira o sublime.

 

Fátima Guedes

Conheço menos do que gostaria da obra de Fátima Guedes, mas do que já ouvi, me chama muita atenção a qualidade de suas composições. Cantora e compositora carioca, começou sua carreira nos festivais de música dos anos 1970, e ao longo da sua trajetória foi gravada por nomes como Simone, Maria Bethânia, Zizi Possi e Ney Matogrosso. Vale a pena escutar “Cheiro de Mato” e “Flor de Ir Embora”. “Onze Fitas”, gravada por Elis Regina, também é de autoria de Fátima.

 

Nelson Motta

Completando 80 anos nesta terça-feira, o jornalista, escritor e roteirista Nelson Motta foi um dos caras mais presentes nos mais importantes acontecimentos na música brasileira na segunda metade do século 21. E mais do que estar presente, também participou da criação de movimentos e canções. Coautor de músicas compostas com Ed Motta, Guilherme Arantes (Como “Coisas do Brasil”), Marcos Valle e Lulu Santos (Como “Tudo Azul” e “Como uma Onda”), deixo aqui uma que não é a sua melhor canção, mas que com certeza é a minha favorita.

 

Alvin L

Com mais de 215 músicas registradas, pode-se dizer que o letrista carioca Alvin L é um dos grandes nomes de compositores do rock brasileiro. Tendo parcerias com nomes como Leoni, Frejat, Leo Jaime, Ritchie e Lulu Santos (e até com artistas de fora do gênero musical, como Leila Pinheiro e Ana Carolina), é mais conhecido por compor junto e ser gravado por Marina Lima (Como em “Não sei dançar”) e Capital Inicial – esses os seus principais parceiros desde os anos 1980. “Tudo que Vai”, “Quatro Vezes Você” e “Natasha”, por exemplo, têm dedo dele.

 

Mallu Magalhães

Quem não se lembra daquela cantora e compositora paulistana que cantava folk autoral em inglês e estourou na internet nos anos 2000, quando tinha apenas 15 anos? Pois é, Mallu Magalhães foi muito criticada na época, por ser desafinar, errar pronúncia de palavras estrangeiras… Mas o fato é que suas músicas têm uma qualidade e uma maturidade, se pararmos pra pensar que suas primeiras músicas – e por acaso os primeiros sucessos – foram feitos por uma adolescente, é de se tirar o chapéu. Se considerarmos o contexto “Tchubaruba”, por exemplo, chega perto da genialidade.

 

Dani Black

Ex-integrante do grupo paulista 5 a Seco, Dani Black é um daqueles caras que vive a música no seu corpo e na sua alma: grande cantor, um exímio guitarrista e um compositor muito, muito interessante. De família de artistas (ele é filho de Tetê Espíndola, conhecida como intérprete da música “Escrito nas Estrelas”), Dani teve no seu convívio pessoal músicos consagrados, o que certamente possibilitou uma grande ponte para que suas canções fossem interpretadas por grandes estrelas da música brasileira, como Ney Matogrosso, Elba Ramalho e Gal Costa. Uma das músicas gravadas por Gal é “Sublime”, que se tornou um sucesso recente na voz da cantora. Deixo aqui a canção na voz do Dani, que por acaso é a versão demo que foi enviada para a cantora.

 

Antonio Cicero

Escritor, filósofo e compositor, Antonio Cicero era erudito o suficiente para ser considerado imortal pela Academia Brasileira de Letras, e popular a ponto de compor letras de grandes clássicos da música pop brasileira do século 21, como “O Último Romântico”, parceria Lulu Santos, e diversas outras canções com sua irmã Marina Lima, como “Fullgás”, “À Francesa”, “Pra Começar”, “Virgem” e muitas outras.

Cicero morreu no dia 23 aos 79 anos. Ele tinha Alzheimer e optou pelo procedimento de eutanásia. Vítima de uma doença que afeta a memória e a sensibilidade, felizmente os seus delicados versos serão eternos, como uma das frases que melhor explica as nossas paixões na vida: “Todo amor vale quanto brilha”.