“Dizem que o povo brasileiro não sabe votar. O povo sabe”, avalia Luiz Zaffalon, prefeito reeleito de Gravataí

Zaffalon e Dr. Levi conquistaram 51,17% dos votos de Gravataí. Foto: TL Vídeo

Nas eleições municipais de 2024, a disputa pela prefeitura de Gravataí foi uma das que mais chamou a atenção de quem acompanha política. No pleito, três homens que já governaram a cidade. Daniel Bordigon (PT), que chefiou o Executivo entre 200 e 2004 e Marco Alba (MDB), prefeito em duas oportunidades entre 2013 e 2016, e entre 2017 e 2020, concorreram contra Luiz Zaffalon (PSDB), que buscava a reeleição. Outro elemento importante da disputa estava na relação entre o tucano e o emedebista, antigos parceiros, que tiveram uma ruptura e se tornaram rivais.

No domingo (06), o Zaffalon foi reeleito com 51,17% dos votos. Em entrevista exclusiva para o site da Masper TV, o prefeito avaliou seu primeiro mandato, projetou os próximos quatro anos, falou sobre a disputa com Marco Alba e também comentou o parecer do Ministério Público Eleitoral que pede a cassação de sua chapa.

Em uma cidade que não tem segundo turno, concorrendo contra outros dois ex-prefeitos, o senhor conquistou mais da metade dos votos. O resultado é mais uma adesão ao projeto que o senhor propõe para a cidade nos quatro anos ou de repente uma aprovação dos quatro anos que passaram?

Primeiro lugar, uma aprovação dos quatro anos que passaram, sem dúvida. Eu tenho aprovação em pesquisa, várias que eu tenho, que a cidade, 80% da cidade, aprova o nosso governo. E a gente soube mostrar para a cidade, que às vezes aprova, mas tem que ser mostrado, tem que explicitar numa campanha exatamente aquilo que tu fez. E confiar que o povo, e ficou comprovado, que a população entende sim de voto. Eles votam no que é bom, no que realiza, no que entrega. E foi isso que aconteceu.

A população viu aquilo que a gente fez, foi muita coisa que nós fizemos. A gente teve um ano de pandemia, tivemos vários eventos graves, mas mesmo assim entregamos muito para a sociedade. A população viu, isso é uma comprovação de que o povo sabe votar sim, ele sabe ler quem fez, quem não fez, por que que fez, como fez, então ele tem a satisfação de dizer isso hoje. Nós fizemos muito e conseguimos mostrar e a população conseguiu ver.

O senhor mencionou a pandemia. Os prefeitos gaúchos, em geral, foram eleito em meio à crise da Covid-19 e no último ano enfrentaram as enchentes. Gravataí, foi uma das cidades menos afetadas pelas águas, mas ainda assim sofreu impacto pela região. O senhor imagina que o segundo mandato vai ser mais tranquilo?

Sem dúvida, sem dúvida! Esse evento climático, a maior, cheia do século, também refletiu na cidade, mas mostrou um trabalho que a gente fez. Evidentemente que a população nota isso, viu o nosso empenho na rua, nós somos a primeira cidade do Rio Grande a contratar um plano de drenagem e manejo de águas pluviais. Então a população enxergou, eu já vinha antes da enchente fazendo desassoreamento dos arroios. Limpando os arroios para a água escoar. Então também isso a população vê.

O que vai estar melhor no segundo mandato, não só a questão climática, não teremos esses eventos, espero, mas é também a condição financeira do município. A Covid, essa enchente…, olha, 2023 e 2024 foram os piores anos de arrecadação aqui do município. Em consequência da queda, da arrecadação do Estado, nós chegamos a passar da quarta economia, do quarto PIB do Estado para o nono PIB. Em consequência de ter parado a indústria. A GM, que é o carro forte aqui, parou em 2021. E aí em 2023 nós passamos a ser a nona economia do Estado e não mais a quarta. Depois os dados já. Mostram que já no ano de 22 foi melhor que 19, a gente já mudou de patamar, mas já passamos a ser o quarto de novo, a quarta economia, isso se reflete em 25.

Em 25 nós teremos um ano muito melhor do ponto de vista de dinheiro no caixa. Então vai melhorar sim, a gente vai fazer mais sem dúvida. E disse isso na campanha, comprei a briga e dobrei a aposta. Disse na campanha que vou investir mais do que eu investi lá atrás, enquanto o outro candidato (Marco Alba) falava em endividamento. Ele confunde endividamento com investimento, são duas coisas completamente diferentes, mas eu vou continuar investindo. Disse isso para a cidade e a cidade entendeu, entendeu que tem que investir, tem muita demanda na minha cidade, a gente não fez tudo.

Na segunda metade do seu mandato, o senhor  precisou recompor o governo, porque quando houve a ruptura com o ex-prefeito Marco Alba, parte da base aliada passou para a oposição.  O senhor precisou articular com os parlamentares, que então era uma oposição para que eles apoiassem também o governo. Nesse segundo mandato, a composição da Câmara ficou mais confortável, né?

Muito melhor, acredito que muito melhor, porque não vai ter esse problema que nós tivemos lá atrás. Então, hoje, o mandato, eu sou o dono do mandato, eu e o Levi fizemos 51,17% dos votos, elegemos 15, 16 vereadores, ou seja, vai ser muito mais fácil.

Não vai ter mais esse tipo de rompimento que aconteceu lá atrás, quando o antigo prefeito que fazia parte da nossa base nos ajudou na eleição e disse que nós faríamos mais e melhor, que nós fizemos de facto. Mas ele era uma presença do governo, concorreu a deputado federal, não se elegeu e aí acha que, “ah, então agora eu volto pra prefeitura e tá tudo certo.” Não é assim, a combinação não era essa. A combinação era ele ser deputado federal. Nós o apoiamos, ele não conseguiu por problemas dele aí com o eleitorado.

Bom, mas isso não mudava o que nós tínhamos acordado. Então nós rompemos. Rompemos por outras práticas, né? A prefeitura não podia continuar sendo palanque de um candidato à prefeitura contra o prefeito atual que tinha direito à reeleição. Então rompemos ali, eu fui buscar outro partido e me elegi.

Então deve ser muito melhor na conversa com o Legislativo a partir de agora, porque não vou ter que recompor nada. Já desde o primeiro dia de mandato.

Prefeito, para além da questão política. Na ruptura com o ex-prefeito Marco Alba, muitos dos apoiadores dele, inclusive na Câmara, lhe acusaram de deslealdade, de traição. O senhor enxerga esta vitória política também como uma aprovação da sua postura no conflito?

Sem dúvida, né? E eu digo que mais de 80% da população aprova o governo e foram pra urna, mesmo com difamação, vídeos apócrifos dizendo horrores sobre a minha pessoa, me chamando de corrupto, ou seja, absurdos, completos, que eu registrei na polícia, registrei B.O., mas não tem resultado disso, né? Mas, com tudo isso, ainda mais da metade da população aprovou o nosso governo. Aprovou o nome meu e do Levi, então aprovou nosso governo e as propostas de continuidade.

A gente vai para o segundo mandato com o respaldo da população que não votou porque o outro indicou, votou em mim. Eu concorri contra eles, a população votou no meu governo. Tive uma votação maior do que na primeira eleição, quando ele supostamente foi o responsável. Agora eu concorri contra ele contra o outro do ex-prefeito (Daniel Bordignon), que foi famoso aqui na cidade, teve o seu tempo, que foi decente ao menos a campanha. Mesmo assim 51,17% votou no meu governo confiando no nosso trabalho. Então, agora existe muito mais tranquilidade para tocar o governo.

O Ministério Público Eleitoral emitiu um parecer aconselhando a cassação da sua chapa. Isso lhe preocupa?

O jurídico está trabalhando nessa questão, mas  setu olhar o processo, tu não tem um lado meu ou do vice-prefeito Levi dentro do processo. Nada, nada, nada, não tem uma prova, não tem uma comprovação, nem denúncia  contra mim ou contra o vice-prefeito. Então, seguramente, o Ministério Público errou na avaliação completamente. Cassação? Oito anos de inelegibilidade? Não tem fundamento, não tem um ato meu, né? Aquilo é um grupo de WhatsApp, de pessoas que evidentemente são do governo, que fazem política, que me ajudaram na zeladoria da cidade. Não tem nada meu, nem  do vice-prefeito Levi, nada, nós nunca entramos nesse grupo.

Não tem nenhuma denúncia contra mim e contra o governo. O absurdo é recomendar a cassação do prefeito e do vice com 51,17% do público. Vamos combinar que isso não tem lógica mais. Então nós vamos defender, vamos ver o parecer da juíza eleitoral e tal. E vamos ver o que acontece.

Que mensagem o senhor deixa para a população de Gravataí?

Eu só quero agradecer ao povo de Gravataí e dizer o que eu disse no meu discurso da vitória. É impressionante, e eu fico feliz com isso, como a população entende daquilo que faz. E no Brasil tem essa mania de se dizer que o povo não sabe votar. Sabe sim, eles enxergam quem trabalha, eles enxergam quem entrega, eles enxergam quem é sério na política, quem não ataca, quem tem alto nível para dirigir uma cidade com Gravataí. Então eu quero parabenizar a população da cidade e agradecer, evidentemente, nessa votação estupenda que nós tivemos. Perfeito. Prefeito, agora encerrado a entrevista, eu só vou.